Quando o Estado, por suas
ramificações, funciona nos limites do que está encartado em nossa Lei Maior,
não há outra consequência senão a promoção de justiça social. É esse, portanto,
o ingrediente mais significativo no combate às desigualdades, ao preconceito, à
intolerância e, por consequência, à crescente criminalidade.
Nesse delicado papel, de
gestor não apenas das normas, mas, sobretudo, de expectativas sociais, notadamente
sobressai-se o ente a quem entregamos o poder de dar a “última palavra” em eventuais
conflitos: o Judiciário.
Contudo, se falta credibilidade,
por uma série de deficiências, no órgão garantidor das garantias, no dizer do
mestre italiano Ferrajoli, ou seja, no templo guardião de nossos direitos, é sinal
de que a democracia padece sorrateiramente. Vivemos, assim, sob a égide de uma
democracia formal, reconhecida apenas no papel.
Desde 2008 pesquisas realizadas
em diversos estados brasileiros ganham notoriedade nos grandes meios de comunicação
apontando o grau de credibilidade das instituições públicas para sociedade e, obviamente,
destacando a boa colocação da imprensa frente às mesmas.
Traduzindo: as informações
transmitidas pela imprensa de um modo geral, têm mais chances de serem tomadas
como verdadeiras e corretas do que uma decisão judicial, crivada pelo devido processo
legal, pela ampla defesa, pelo contraditório e seus consectários.
Assusta-nos é a sutileza com
que boa parte da grande mídia age neste processo de enfraquecimento das
instituições do Estado. Como bem salientou a professora Alice Bianchini outro
dia em sala de aula, as reportagens, na maioria das vezes, não citam a pena mínima do crime, ponto de
partida obrigatório para o magistrado. Só se fala da pena máxima, desta forma,
como dificilmente alguém é condenado à pena máxima, pelas garantias que
existem, quando o sujeito é condenado bem próximo da mínima, a sociedade, que emocionalmente
cobra sempre a máxima, fica frustrada, gerando sensação de impunidade e
leniência.
Mas nossa preocupação não
deve se conter a isso. Quais as reações das autoridades constituídas diante desse
grave disparate? Seria uma análise crítica voltada para a melhoria das
estruturas arcaicas e excessivamente burocráticas? Decididamente não! A solução mais empregada
pode-se resumir em uma só palavra: Populismo!
É assim que, na maioria
dos casos, revidam algumas autoridades diante do problema. Fórmula simples, baseada
na retórica, que se bem manuseada, surte os efeitos desejados: encontram braços
fraternos, aconchegantes, solidários, oferecidos por incautos, que, por sua
vez, difundem, propagam, dão eco, apaixonam-se pela “causa”. É o casamento
perfeito entre a ingenuidade (dos que propagam) e a má-fé (dos que propõem
fórmulas populistas).
Aqui mesmo neste espaço temos insistentemente alertado para os perigos desses movimentos que rondam as bases de nossa jovem democracia, como também temos destacado a necessidade de mudança de paradigmas, mentais e estruturais.
Saltam aos olhos os defeitos que nossas instituições possuem (inclusive o judiciário) e, pela mentalidade e estrutura persistentes, acabam fomentando a perpetuação dos mesmos. É preciso cobrar sim, com veemência se preciso, mudança de rumo, de atitude, de postura, desde que seja, evidentemente, para promover uma maior aproximação com os princípios democráticos citados no início, pois somente desta forma estaremos exercendo uma verdadeira democracia substancial, fortalecendo as instituições e, consequentemente, nossas valiosas garantias.
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